Depois de um longo ócio não criativo, volto a postar no blog após ter aprendido alguma coisa com Baudelaire e Walter Benjamin.
O Flâneur. A flaniere. A arte de andar nas ruas. Walter Benjamin define o flâneur como "um estudioso da natureza humana, sob a aparência de um olhar desatento e distraído. Nele, esconde-se alguém cuja volúpia reside na decifração dos sinais e das imagens: algo que pode ser revelado por uma palavra deixada ao acaso, uma expressão capaz de fascinar o olhar de um pintor, um ruído que espera o ouvido de um músico atento". É o ócio criativo levado ao extremo através de um passeio por uma cidade, e pela "observância" de detalhes.
Tento deixar aqui, as impressões de um aprendiz de Flâneur, que teve suas lições nas avenidas de Belo Horizonte, nas ruas de Viçosa, nas pinguelas de Cachoeira do Campo, e nas ladeiras da antiga Vila Rica.
Belo Horizonte. A flaniere aqui proporciona uma experiência interessante. Blocos de concreto, milhões de rostos e sorrisos que em menos de 5 minutos desaparecem da memória. Sons tão altos que nem o mais alto dos tenores alcançaria, e tão baixos que nem o mais baixo dos baixos ousaria reproduzir.
Quando cai a noite, a cidade se ilumina ofuscando o brilho das estrelas e da própria Lua. Aqui encontrei o caos.
Viçosa. Andando pelas ruas consegue-se sentir o cheiro forte de estrogênio e testosterona. Aconselho o uso de um tapa olfato, ou terá uma overdose que te "desolfatará". A cidade cresce como as árvores.
Duas realidades diferentes se convergem em um determinado ponto.
A Idéia e a Praxis se complementam.
Cachoeira do Campo. A cada encontro um "Oi", mesmo que não se conheça. O chão batido suja os pés, mas isso não é ruim. Os sons te levam a um estado de tranquilidade mórbida.
E o céu? Como dizia uma pequena sábia: " este é o céu mais belo que já vi". De dia o sol brilha incansável, durante a noite as estrelas caem como os anjos caídos, aos milhares, e a lua parece sempre estar cheia.
Vila Rica. Ouro Preto. O grande palco. O teatro urbano.
A flaniere aqui é única. Chegando a cidade um vórtice te leva pro passado. A velha senhora dá as cartas. O mofo domina o ar. Pedras anestesiam os pés, e as ladeiras as pernas. O público e o privado se fundem.Já o profano e o sagrado se confudem. Fantasmas pairam sobre a cidade, consegue-se senti-los. De hora em hora a orquestra "sinofônica" se apresenta na torre dos templos esperando por aplausos após o concerto, mas estes nunca acontecem.
Essas foram as impressões de um aprendiz da flaniere. A subjetividade vem primeiro.
Saulo Pedrosa da Fonseca Rios